As importantes lições da natureza em nossas vidas
Texto escrito por Julia Boell
Não bastasse o alimento, prazer e saúde que uma horta dá, ganha-se de brinde algumas boas lições. As lições da natureza se aplicam facilmente à vida.
As plantas muitas vezes dão mais flores do que a quantidade de frutos que poderão carregar. Quando é época da florada e você vê todos aqueles frutos em potencial, a tentação de deixar todos crescendo juntos é grande. Você quer tudo! Mas a realidade é que não se pode ter tudo. Às vezes temos que fazer escolhas difíceis e na vida da horta não é diferente.
Desbastar e ralear se fazem necessários. Estes termos significam que, no caso de dois pêssegos crescendo muito perto um do outro, ou em um galho que é novo demais, um vai ficar e o outro tem que ir. Ou ainda, se várias sementes de cenoura germinaram, a mais forte será escolhida e as outras terão que dar espaço para ela. Eu sei, é triste. Mas se não for feito o que se segue são pêssegos e cenouras que não vingarão. Esmagarão a si mesmos e roubarão nutrientes uns dos outros e aquela colheita que você já estava contando como certa não irá acontecer.
Em resumo, às vezes perder significa ganhar, e, quando se quer tudo, pode-se acabar com quase nada.
Sem o hortelão, a horta não acontece. É necessário alguém com vontade e disposição para pôr a mão na terra e trabalhar. O plantio, o cuidado a irrigação. Foi você que fez! E o senso de realização vai ser grande ao colher sua primeira alface ou temperinho. Por mais que essa sensação seja justa e merecida, também é verdade que fazemos muito pouco para a mágica acontecer. Afinal, o que é molhar uma planta em comparação com o processo da germinação? O que é pôr um adubo aqui e ali quando a planta está desenvolvendo um fruto cheio de complexidades e nutrientes?
Eu gosto desse equilíbrio entre ser muito importante e também não ser. É bom pensar que faço a diferença. E também é bom pensar que a natureza vai continuar sem mim e que a parte realmente difícil é com ela. Imagina ter que tecer cada gominho em uma tangerina? Injetar água nas entranhas de uma melancia?
Entender que somos importantes é bom, mas achar que somos indispensáveis, traz ansiedade. Afinal, se você é indispensável e não conseguir dar conta do serviço, o mundo vai acabar! Tudo depende de você! Ou será que não? O mundo esteve sempre aí, e vai continuar depois de você não ter terminado aquele prazo.
Eu já vi gente que planta só por hobby. Na hora de comer aquela escarola bem amarga que foi cultivada com muito carinho, melhor dar para o vizinho. Mas é mais comum que se experimente coisas novas, e passe a gostar delas! A abobrinha não me apetecia até que resolvi planta-la. E que cultivar legal! Fica enorme e dá muitos frutos rapidamente. Sem falar naquela flor amarela maravilhosa. É óbvio que eu ia querer comer aquele fruto, gostando dele ou não. E adivinhe, passei a amar.
Você vai ficar com tanto dó de deixar um pé lindo de alface apodrecer que acaba comendo-o. Os temperinhos estão tão convidativos no seu vaso, que você vai cozinhar só para poder usá-los. A mexerica exalando um cheiro doce no ar vai te convidar, não, vai te obrigar a pegar uma e comê-la enquanto caminha e já aduba o resto do jardim com as suas cascas.
Não dá para comparar o apelo que uma fruta tem enquanto ela está no galho com o apelo de estar num saco plástico no fundo da sua geladeira. Pegar uma fruta do pé, que você cuidou, que você viu crescer por meses e ansiou o momento de experimentar, é uma experiência à parte. A tendência de que uma horta (ou pomar) te ajude a melhorar a sua alimentação é grande.
Vivemos acelerados. Nossa vida, nossa mente, nosso trabalho. Corremos constantemente, afinal, quanto mais rápido formos, mais alcançaremos. O nosso resultado depende exclusivamente de nós.
Pois em um belo dia você resolve plantar uma árvore. Você aduba, rega, faz o controle de pragas. E agora? Bem, agora espera. O pensamento de que o processo vai acontecer praticamente sozinho, e que você, no máximo, dá as melhores condições possíveis é libertador. Ficar olhando para a planta não vai fazê-la crescer mais rápido, ela não está nem aí para a sua ansiedade.
Aliás, se tentar acelerar o processo exagerando na frequência do adubo, vai queimar a raiz. Se exagerar na irrigação, vai faltar oxigenação no solo. Se exagerar na poda, vai matar a árvore. Com plantas, você tem que fazer a sua parte (importante, mas nem tanto, como já vimos) e deixar acontecer no tempo certo. Eu fico me perguntando se não é assim que devemos viver.
Entender que o que não cabe a nós, não cabe a nós. Damos o nosso melhor ao preparar a terra, plantar a semente, adubar, irrigar e podar. Mas relaxamos ao observar a natureza pegar esses elementos e transformar numa obra de arte.
Ao viajar em uma estrada que contornava a mata atlântica, observei samambaias nos montes e aos montes. Elas estavam bem verdes e saudáveis. Mas é claro que estavam! Elas nasceram ali espontaneamente e, se não estivessem com as condições ideais para o seu crescimento, já teriam morrido a muito tempo. Afinal, não tem ninguém indo no meio da mata atlântica passar adubo foliar de samambaia nelas.
Nesse momento lembrei da minha samambaia pendurada no meu escritório, lutando para sobreviver às intempéries em que eu coloco a coitada. Nada é ideal para ela ali. É seco, a terra é escassa e não tem adubos vindo em doses homeopáticas a cada folha seca que cai no chão. A vida dela depende de constante cuidado e atenção.
Quando se está onde deveria, tudo fica mais fácil. O ambiente propicia a existência e exige poucos cuidados.
Se você for comprar uma árvore com um caule da espessura do seu dedo mindinho e o vendedor disser que vai dar fruto em seis meses, não acredite! Esses seis meses estarão mais para alguns anos, então não se decepcione se a sua árvore não render o que você esperava logo de cara. Porém, se houver paciência e persistência, chega a hora que a árvore resolve trabalhar e dar o fruto. Ou será que ela ficou trabalhando arduamente esse tempo todo?
A planta vai parecer inerte por muito tempo e, de repente, um fruto muito complexo brota de um galho como se não fosse nada. A questão é que a planta não estava inerte, ela estava preparando cada detalhe daquele fruto por meses, mas ninguém viu.
Ao olhar os frutos das árvores alheias podemos achar que aquilo foi fácil, que deu de uma hora para a outra. Quem está de fora e não viu o trabalho interno, feito diligentemente por anos, realmente vai ter a impressão que caiu tudo do céu. Mas lembre-se, só porque você não viu o processo acontecendo, não quer dizer que ele não existiu.
O mesmo se aplica a qualquer processo que você esteja passando. Quantas semanas, meses e anos você batalha por algo e o fruto do trabalho não vem. Mas quando estiver prestes a desistir, a cortar a árvore pela raiz e trocar por outra, você irá passear no seu pomar e descobrir uma florzinha que se abrirá em breve.
A você cabe semear, regar, adubar e esperar. Mas esperar com a certeza de que em um momento, quase inesperado, um botão se abrirá para recompensar todo o esforço e dedicação.
Julia Boell, engenheira mecânica e metida a hortelã que uniu as duas paixões para criar a Plantta, empresa que fabrica vasos específicos para horta que já vêm com sistema de irrigação. Para mais informações deste vaso inovador, entre em www.plantta.com ou @useplantta no Instagram.